Blogueira censurada vira xerife anticorrupção em MT

Adriana Vandoni, economista por formação acadêmica, jornalista por devoção, blogueira porque não lhe sobrou espaço na mídia em seu estado será, a partir de janeiro, a xerife anticorrupção em Mato Grosso, que desde sempre vem sendo assaltado por políticos da qualidade de um José Geraldo Riva, o maior ficha-suja do Brasil. A nomeação, anunciada pelo futuro governador Pedro Taques, marca uma reviravolta histórica na sina mato-grossense, que os políticos locais tratam como um grotão de desabrido patrimonialismo.

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Adriana é de uma honestidade inquestionável. Sua luta contra as quadrilhas que assaltam MT lhe valeu pesadas sanções obtidas de juízes suspeitos que mantinham relações completamente anômalas com os poderosos de turno. Ainda hoje, às vésperas de assumir o futuro gabinete de Transparência e Combate à Corrupção, ela se encontra censurada, impedida judicialmente de escrever sobre a lambança de Riva, Humberto Bosaipo e outros larápios que durante décadas assaltaram os cofres daquela desvalida unidade da federação.

O cerco político-judicial que se armou contra ela foi tão forte que Adriana Vandoni teve que se valer de uma ‘permuta de censura’, criada juntamente com este blogueiro, à época também sob censura, para escoar o material que seu blog, Prosa e Política, produzia em Cuiabá. Eu publicava no Blog do Pannunzio o que ela estava impedida de levar ao ar em sua página na internet, ela fazia o mesmo por mim. Assim pudemos seguir denunciando os malfeitores que nos assolavam com suas iniciativas censórias. A iniciativa valeu quatro processos do atrabiliário José Geraldo Riva contra mim e outros tantos contra ela própria.

O incrível é que, ao tomar posse como a grande corregedora da lisura dos negócios públicos em Mato Grosso, Adriana Vandoni ainda vai estar sob censura judicial, impedida de escrever na internet sobre e pelos ladrões que sempre denunciou. Ou seja: não vai poder escrever como blogueira sobre os atos que produzir como secretária de estado.

Quero dar os parabéns ao futuro governador Pedro Taques pela nomeação e desejar sorte a Adriana Vandoni no árduo trabalho que terá para desratizar o Palácio do Paiaguás. Já começa mandando muito bem, governador.

Aos corruptos que a censuraram, desejo vida longa para fruir os resultados desse trabalho. E doses cavalares de lexotan para suportar a angústia e o pavor que já devem ter se instalado entre o Nortão e a capital Cuiabá.

Ampliar o foco e acabar com os partidos. É só o que resta a Dilma fazer.

A presidente Dilma Rousseff diz e repete desde sempre que seu governo patrocina a descoberta dos escândalos que invariavelmente colocam mais petistas na fogueira da corrupção. A afirmação é inverídica. Quem investiga os malfeitos protagonizados pelos petistas e outros aliados na roubalheira são o Judiciário, o Ministério Público e a Polícia Federal, investida de prerrogativas constitucionais. O governo central vai sempre a reboque das más notícias.

Tudo o que PT e aliados não querem é a abertura das diversas caixas de Pandora representadas pelos múltiplos esquemas profissionais de roubalheira. As investigações só acontecem, aliás, porque os partidos cleptomaníacos não conseguem, como gostariam, controlar a Justiça, o MP e a imprensa.

Até aqui, o ‘saneamento’ das instituições tem demonstrado que basta apontar a lente para algum ponto da máquina pública para encontrar os ladrões ocupantes de cargos de confiança e evidenciar sinais da rapina da qual são encarregados por delegação publicada no Diário Oficial. Com a chancela presidencial.

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A Presidente tem, no entanto, uma chance de demonstrar que o que diz é verdade e reflete seu ânimo político. A ela, que se julga dona de todos os Poderes, cairia muito bem a iniciativa de ampliar o foco e iniciar uma faxina verdadeira e substanciosa por conta própria, sem esperar pelas más notícias que certamente sairão de órgãos como as estatais do setor de energia e outros grandes contratadores de serviços. É fixar a lente e enxergar a roubalheira.

O caminho para isso já foi dado pelos próprios barnabés da corrupção. Dirijam a lente expedita da Justiça para Itaipu, onde é nítida a ascendência dos malversadores de dinheiro público. Depois foquem as agências, especialmente a ANTT, que foi loteada para homens como o espírito público do futuro ex-senador (graças a Deus!) Gim Argello, o amigão do peito de Dilma Rousseff.

Apropriar-se de conquistas que não são suas não vai fazer da Presidente a protagonista do processo. Repetir frases vazias como a de que é o governo quem patrocina a descoberta dos múltiplos esquemas não serve para nada. Com metade de seus indicados  potencialmente enrolada nos escândalos que já são conhecidos, até a reputação da próprio Dilma, que todos reconhecem ser pessoalmente honesta (o que aliás não diz quase nada, uma vez que preside um governo de larápios) corre o risco de ser enlameada. Muito ruim para quem entrou como faxineira, mas não consegue enxergar as toneladas de resíduos tóxicos da corrupção que estão diante de seu próprio nariz.

O processo que o juiz Sérgio Moro iniciou no Brasil pode desaguar em algo como a Operação Mãos Limpas, que investigou mais de cinco mil pessoas e conseguiu condenar um terço dos réus. E que, entre outros, teve o mérito de acabar com TODOS os partidos políticos italianos, igualados no lodo pela prática nefasta da tunga sistemática.

Talvez seja mesmo a oportunidade de começar o processo de depuração mandando para o lixo o que ao lixo pertence. Se os partidos foram transformados em aves de rapina pelo patrimonialismo descarado dos petistas e associados, à breca com o PT, PMDB, PP, PSDB e toda a caterva reunida sob siglas que começam com a letra P, de propina. Está mais do que claro que essas agremiações se especializaram no crime organizado, que está rapidamente transformando todos eles em gigantescas quadrilhas de assaltantes da Viúva.

Como os gatunos com mandato transformaram MT na Meca da corrupção

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É inacreditável o que o comprometimento das instituições de um Estado pode fazer contra sua população. O Mato Grosso, como a Polícia Federal e o MPF estão demonstrando sobejamente, é o Reino de Hades da política. A corrupção generalizada contamina praticamente todo o Legislativo, uma parte do Judiciário e o Executivo. A imprensa é venal e se vende por qualquer migalha. Os jornais daquele estado, como eu demonstrei meses atrás, também se valem dos desvãos e dos favores dos corruptos para faturar alto. Roubam do contribuinte até na venda de assinaturas.

Todo mundo está no bolso desse meliante chamado José Geraldo Riva. Ele dispensa apresentações. A despeito da sua longuíssima folha corrida, o assaltante travestido de deputado era bajulado de maneira escancarada pelos colegas-gatunos. A ponto de  ter permanecido despachando na sala da Presidência da Assembléia Legislativa, de onde a Justiça mandou sacá-lo há alguns meses, até a véspera de ser trancafiado desta vez pela PF.

É preciso citar que Riva já havia sido cassado duas vezes quando foi reeleito para presidir a ALMT com a quase totalidade dos votos (apenas uma deputada não o sufragou). E que todos, literalmente todos, permitiram que ele continuasse ocupando as instalações e usurpando as funções de presidente do parlamento. Os jornalistas de Cuiabá nunca viram isso, apesar das inúmeras entrevistas convocadas e concedidas por Riva a eles próprios num ambiente em que o larápio não deveria estar.

O presidente de direito, que se chama Romoaldo (mas é conhecido como Roboaldo pela população), é um fraco submisso, serviçal de Riva e seus esquemas. Não teve coragem sequer para tocar o meliante do gabinete que ele deveria estar ocupando quando a Justiça assim determinou. Não é por acaso que o chefe do propinoduto cuiabano foi levado para a PF de Brasília. Em Cuiabá, o pouco de seriedade que resta ao Poder Judiciário não consegue remover esse câncer chamado corrupção e suas múltiplas metástases na institucionalidade. Até o Ministério Público está contaminado.

Não é por acaso que Cuiabá é um canteiro de obras desconexas, inúteis e mal dimensionadas. E todas elas com problemas na execução — problemas que vão das suspeitas de desvio de dinheiro (muito dinheiro) até a simples incompetência gerencial que conspurca o cronograma. É a capital brasileira que mais está atrasada nos preparativos para a Copa. Os torcedores e jogadores vão ter que passar sobre montes de entulho e andar por ruas esburacadas graças à gatunagem generalizada. É tempo de a população aprender que tudo isso é efeito da corrupção. O corrupto não se interessa pela obra nem pelo bem-estar que ela vai trazer. Interessa-se pela grana que pode amealhar. É por isso que as coisas desandaram na capital de Mato Grosso. O que tem de gente na fila do “bereré” não é brincadeira. O que sobra para obras nunca é suficiente.

Agora que puxaram o fio do novelo, é provável que Riva, o organizador dos esquemas, leve para a sepultura política meio Mato Grosso. Desvendados seus esquemas — os mais antigos foram todos descobertos, mas infelizmente não foram suficientes para levar esse homúnculo definitivamente para uma penitenciária — não vai sobrar pedra sobre pedra. 

Pobre Mato Grosso. Tem neste momento mais uma chance de purgar essa chaga, ao menos esse grupo político-delinquente. Resta saber até que ponto as instâncias de correição vão permitir a faxina. E até que ponto os cuiabanos e matogrossenses em geral estão interessados nisso.

 

 

 

O PT, a moral da guerrilha e a cultura da delinquência

As notícias do envolvimento de petistas célebres com bandidos notórios — lobistas, doleiros, empresários picaretas — deixam claro que o partido aprendeu pouco ou nada com o escândalo do Mensalão. É triste constatar que a legenda, outrora aparentemente comprometida com a moralização da política, tenha se transformado nisso que é hoje.  E que nem o purgatório do cárcere imposto a sua cúpula (o STF e o MPF já chamaram a associação entre José Dirceu, Delúbios Soares, João Paulo Cunha e José Genoíno de quadrilha) foi capaz de dissuadir o ímpeto delinquente de gente como André Vargas e companhia. Enquanto os primeiro ardiam na fogueira do Supremo, os demais já armavam novos trambiques nos prédios vizinhos da Esplanada.

Whitebacked Vultures Feeding on a Carcass

Em 1999, em plena selva colombiana, ouvi de um dos comandantes das FARC uma afirmação que pode ajudar a entender em parte esse comportamento. Disse-me ele que as FARC tinham que sequestrar, extorquir e intermediar a venda de pasta-base de cocaína porque eram um exército insurgente, estavam em guerra contra o governo colombiano e não participavam do orçamento daquele País. Para implantar seu projeto de Estado, tinham que, de alguma forma, financiar as armas, a logística e a instrução de 20 mil homens embrenhados nas selvas. E aqueles eram os meios que lhes restavam.

Há que se reconhecer algumas semelhanças entre a lógica da guerrilha colombiana e a filosofia petista. Note-se o esforço desse partido para defender seus próceres nos múltiplos processos em que se viram envolvidos. A alegação de que petistas roubam não para si, mas para o partido, os equipararia aos guerrilheiros das FARC. É a isto que chamo de moral do guerrilheiro.

O problema é que o PT, ao contrário das FARC, não é um grupo insurgente, não está em guerra contra o Exército brasileiro e tem o controle do orçamento. Foi graças a isso, inclusive, que ele transformou a máquina pública em uma gigantesca máquina partidária — por meio do apadrinhamento, das indicações políticas e da supressão da meritocracia. 

Ocorre que, eventualmente, esse tipo de moral permite o surgimento colateral de episódios e circunstâncias como as que envolveram gente como Celso Daniel, Toninho do PT e, mais contemporaneamente, André Vargas e companhia limitada. Sobre os dois primeiros, pouco esclarecedoras são as circunstâncias de sua morte. Sobre o enroladíssimo André Vargas, aí está o exemplo da gente que se alia ao que há de pior no submundo do crime com o propósito vil de enriquecer, como fica claro na correspondência eletrônica trocada com o doleiro “irmão” Youssef. 

“Um gambá cheira o outro”, diz o sábio provérbio popular. É por isso que os assaltantes do patrimônio público, a despeito das diferenças semânticas e morais, tendem a se encontrar nas mesmas alcovas. A não ser pelos propósitos, não há distinção possível entre ladrões dos mesmos bens. Se uns roubam para o partido e outros, para si mesmos, ambos se equiparam na atitude delitiva, na intencão da tunga. 

Os escândalos da temporada ameaçam transbordar de seus primeiros protagonistas para algo muito maior. Fala-se agora que um ex-ministro indicou um executivo para o laboratório que serviu como cavalo de Tróia para o esquema Vargas-Youssef. Não vou citar seu nome porque ele negou peremptoriamente que tivessse qualquer coisa a ver com isso, embora a Polícia Federal tenha vazados conversas suspeitíssimas entre o doleiro e o até então poderosíssimo vice-presidente da Câmara dos Deputados envolvendo seu nome. É aguardar para ver — até porque a primeira atitude de todo bandido de colarinho branco é negar com veemência o que lhe é imputado.

Em outubro, a população vai às urnas para responder, entre outras coisas, se concorda com essa moral ou se prefere tentar uma alternativa ao roubo secular, que o PT ajudou a emulsificar com a sua mística. Talvez não seja esta a principal preocupação do País ainda. Mas que todos estão percebendo o cheiro da carniça, disso não há mais dúvida — caso contrário, as pesquisas não estariam a indicar o desejo de mudança de dois terços da população. Nem tanto pelo odor fétido da carniça em si — e sim porque ele indica a presença da matilha predadora, dos abutres e dos vermes que também se nutrem dela.