A criminalização da rabanada e a volta do macartismo

Pode parecer paradoxal, mas a primeira conquista real dos black bloc no campo ideológico é a volta do macartismo. Explico. A partir de uma vaquinha (as do PT para os mensaleiros são muito mais substanciosas) para custear uma ceia de natal, parte da imprensa e da opinião pública já concluiu que os BBs são financiados por “vereadores do PSOL, juízes e delegados de polícia”.

Vencidos ou vencedores ?

Vamos aos fatos. Ninguém vai promover a destruição Estado, do capitalismo, da mídia burguesa-corporativa e o fim da polícia militar lançando rabanadas durante manifestações natalinas de protesto. Parece muito mais razoável e verossímil aceitar que, entre um quebra-quebra e outro, os black blocs do Ocupa Câmara promoveram efetivamente uma confraternização para moradores de rua. Ou você acredita nessa conversa fiada de revolução da rabanada ?

Agora vamos pelo outro lado. O sujeito está em seu gabinete quando toca o telefone. Na linha está Sininho, a black bloc. Ela diz que vai fazer uma ceia de natal e pede uma doação. Se você fosse o político procurado, doaria ou não o dinheiro ?

Eu doaria, ainda que fosse inimigo visceral da causa que eles representam. Duzentos ou trezentos reais podem representar a diferença entre granjear alguma simpatia ou colher a antipatia de quem joga pedras, taca coquetéis molotov e esmurra inimigos ideológicos. E aí, é um bom negócio ou não ? Se a sua resposta é ‘não’, significa apenas que você nunca esteve no fogo cruzado de uma manifestação violenta. Só isso.

Há um outro aspecto muito importante nas denúncias patrocinadas pelo advogado Jonas Tadeu. É o que trata do aliciamento de baderneiros para infundir o terror durante as manifestações. É fato que os black bloc ‘aliciam’ arruaceiros. Mas dou minha cara a bater se alguém provar que a coleta dessas almas é feita com dinheiro, quentinhas e ônibus para o transporte do lumpezinato de aluguel.

Não faz nenhum sentido, a não ser para os analfabetos políticos ou para ou para os mal-intencionados, afirmar que anarquistas podem se valer das mais nefastas práticas capitalistas para montar o exército que vai combater o próprio capitalismo.

Mas faz muito sentido suspeitar que o quebra-quebra e o pânico disseminado durante as batalhas campais interessam a alguns políticos inescrupulosos. Mais do que verossímil, é lícito supor que gente como Antony Garotinho, cujos bate-paus de palanque foram fotografados entre os black blocs, esteja financiando a amplificação da baderna para levar o caos ao Rio de Janeiro. Ao final das investigações, é bem provável que isso fique patente. É esperar para ver.

É provável que os jovens que usam máscaras só venham a entender como foram utilizados pela esperteza dos políticos quando tudo isso restar comprovado. Até lá, no entanto,  vão colher muitas derrotas com a sua tática de ‘ações diretas’ de depredação e desafio à autoridade do Estado. Derrotas que todos os brasileiros vão ser obrigados a dividir com eles.

A começar pelo estreitamento da nossa democracia com a promulgação iminente de leis contra o terrorismo. Elas virão aí, certamente, porque a sociedade está a exigí-las. E vão impor penas severíssimas, criminalizando comportamentos que durante 30 anos foram acolhidos pela nossa jovem democracia.

É uma pena. Mas a estupidez e a demência desses don quixotes anarquistas não vão tornar o País melhor nem mais livre, ainda que venham a torná-lo mais seguro para quem tem uma causa por que protestar.