Cuba negou meu visto. Dane-se Cuba.

 vistocuba

O governo de Cuba negou-me um visto de entrada naquele país. Do ponto de vista pessoal, não perdi grande coisa. Mas o prejuízo profissional não foi pequeno. Eu iria àquela ilha anacrônica para cobrir a visita da presidente Dilma Rousseff. Não pude. Os ditadores locais e seus asseclas são dados a chiliques.

Creio que só conseguirei voltar a Cuba quando cair a ditadura dos irmãos Castro. Creio, portanto, que não deve demorar muito. Estive lá uma única vez, há exatos dois anos, para realizar uma série de reportagens para o Jornal da Band. Foi isso que determinou o presente veto.

Explico. Como todo mundo sabe, Cuba é uma ditadura das piores — nem digo mais “das maiores”, “das mais duradouras”, porque isso é muito óbvio e não exprime o que eu realmente gostaria de transmitir. Ainda mantém pelo menos 50 cidadãos encarcerados como presos políticos por delitos de opinião. Isso sim ilustra bem o que vem a ser uma ditadura.

Quando estive lá, fiz uma série mostrando como é aquele enclave stalinista renovado. Uma economia destroçada (pelo embargo americano); privação de alimentos; zero de liberdade de imprensa, opinião e crítica; prostituição epidêmica (por dez dólares você come até uma prima distante do Fidel); falsificação descarada de charutos; corrupção endêmica; etcétera.

Em 2012, franquearam-me o direito de permanecer em Havana por oito dias. No terceiro, assim que a presidente Dilma se foi, um policial — isso mesmo, policial — do departamento de imprensa (deveria se chamar departamento de censura) do governo disse que eu deveria deixar o país imediatamente. Respondi que não, que permaneceria até a expiração do visto, o que efetivamente ocorreu.

Mas não sem enfrentar muita coação — velada e explícita — para sair de Cuba. Nosso motorista era araponga. A gerente do hotel era araponga. Todo mundo em Cuba é araponga. Tentaram de tudo para nos constranger — a ponto de ‘plantarem’ uma puta no nosso hotel para nos induzir ao cometimento de um crime (lá, apesar de ser a segunda profissão mais numerosa, perdendo apenas para o serviço público, a prostituição é crime).

Se ferraram. A prostituta não passou do bar no saguão do hotel. Não ‘conseguiu’ subir ao meu apartamento para configurar a situação ‘delituosa’.  Ficou possessa, bebeu litros de rum 7 Años, tomou um tombo e, no final, ainda figurou anonimamente como personagem de uma das matérias que produzi.

Só para registrar (como uma curiosidade periférica): a puta usava saia balonê branca, sapatinho branco e meias rendadas três-quartos. Parecia uma gorda colegial da década de 50, fazendo bom par para o BelAir que a deixou na porta do nosso hotel.

Mas as putas, que também fazem dobradinha como arapongas, não são o cerne do problema. Por 20 dólares americanos, elas até sentem que te amam. Os caras do governo, não. Pode dar 200 dólares pra eles que eles vão te odiar do mesmo jeito. Porque é moda desde os anos 50 detestar jornalistas que não batem continência para El Comandante. Estes, os jornalistas do Granma e congêneres, que também dobram o turno como arapongas,  são fiéis e monogâmicos: amam só (e tudo) o que os ditadores seus patrões fazem.

Quem já esteve lá sabe muito bem o que estou dizendo. Quem não teve a oportunidade pode ver minhas matérias aqui, aqui e aqui. Elas estão bem atuais.

De resto, há apenas uma coisa a lamentar. Não vou poder acompanhar in loco o ocaso da ditadura Castro.

Que pena!

10 thoughts on “Cuba negou meu visto. Dane-se Cuba.”

  1. Pannnzio, o seu único prejuízo vai ser não tazer aquele papel higiênico oficial (o Granma) para se limpar.

  2. Fabio, que pena ! quem perde pra valer são os encarcerados naquela ilha da ditadura. perdem mais uma voz que ecoa a dor de quem tem a faca na garganta o tempo todo !

  3. Pena que não tenhamos podido ter mais notícias e algumas fotos atuais do Porto que vai consumir 682 milhões de dólares do nosso dinheirinho dos impostos.

  4. Meu caro Fabio, estive em Cuba pela CBS TeleNotícias Brasil (norte-americana) para cobrir a viagem do papa JP II a Cuba e, basicamente, enfrentei o mesmo, ainda que sem o mesmos rigores de coação. Afinal, o visto havia sido negociado via EUA para uma grande cadeia de tevê americana, etc. Concordo em gênero, número e grau com o que você escreveu. E vamos continuar na torcida para que esse regime de merda caia logo!
    Abs,
    Claudio Lessa
    Brasilia, DF

  5. Estive em Cuba há quatro anos e gostaria de admitir que nada tenho a acrescentar ao (ou contestar o) que você diz. O retrato que você traça da triste ditadura que oprime um povo tão essencialmente alegre é irretocável. Fica a expectativa de que os cubanos possam logo viver dias melhores.

  6. Por Fernando Freitas
    “Porque os Estados Unidos, nos últimos trinta anos, foram o padrinho e o pai de quantos regimes reacionários, corrompidos, sangrentos, fascistas e repressivos existam no mundo”. Fidel Castro

    Com essa declaração somos convidados a entrar na pequena ilha cercada de amigos e inimigos políticos. “A ILHA – Um repórter brasileiro no país de Fidel Castro”, editado pela Editora Alfa-Omega, é destes livros convidativos que você devora na ânsia de desvendar o mundo a cada página lida. E o resgate literário trazido por ele, não é só a história de Cuba, a partir da queda de Fulgêncio Batista e a construção do governo de Fidel Castro, ocorrida em janeiro de 1959, mas o resgate da cultura e valores do seu povo.

    O livro-reportagem escrito pelo jornalista Fernando Morais, em 1976 – que em sua 18ª, em 1981, ganhou fotos e um capitulo inédito – tem um tom de diário minucioso que conta as profundas transformações pelas quais passou a ilha socialista. No decorrer do texto o jornalista conta o que encontrou ao percorrer as ruas, praias, órgãos públicos, estabelecimentos comerciais e tantos outros lugares cubanos.

    O livro apresenta um retrato histórico de como o país alcançou legitimidade e estabeleceu uma relação político-econômica junto a outros países socialistas ou de esquerda. Isso porque ele descreve a tomada de poder por Fidel Castro e seus amigos guerrilheiros; a estruturação do governo socialista; as dificuldades econômicas iniciais, frente ao embargo econômico imposto pelos EUA; a reconstrução do país, antes capitalista; a nacionalização das empresas estrangeiras, o melhoramento dos serviços públicos – como Saúde, Educação, Segurança, Cultura – etc.

    Na esteira dos acontecimentos, as transformações colocaram a ilha dos irmãos Castro no rumo do desenvolvimento nacional fazendo frente aos países capitalistas de primeiro mundo.

    A reconstrução de Cuba reforça a ideia de Karl Marx de que “a igualdade consiste em tratar desigualmente as coisas desiguais”. Isso porque o entendimento é de que o regime capitalista não dá conta de resolver todos os problemas sociais, se não for por meio de cotas e reparações às minorias, que não passam de medidas paliativas.

    “Penso, portanto, que ninguém, de um país capitalista, tem autoridade para falar de direitos humanos”, argumenta Fidel Castro em entrevista ao jornalista Fernando Morais.

    O conteúdo do livro é dividido em:

    Sobre o autor
    Prefácio
    O Cotidiano
    A Cultura, as Relações com o Mundo
    O Racionamento
    Um País sem Favelas
    A Nova Escola
    A Saúde
    Imprensa
    A Mulher
    Eleição, Justiça
    Reforma Agrária, Economia
    A Revolução Onipresente

    Apêndice

    Uma entrevista com Carlos Rafael Rodriguez
    Entrevista
    A Guerra em Angola Segundo Fidel Castro
    O Médico de Sierra Maestra

    Neste livro é possível entender como se deu a busca pela eficácia no atendimento dos serviços públicos, entre eles, a assistência médica gratuita e de qualidade pela qual Cuba é internacionalmente conhecida. Tanto que se tornou país referência no ensino e prática de medicina oferecendo através de parcerias com vários países, entre eles o Brasil, o ensino e qualificação de profissionais de Saúde.

    No entanto, faço uma recomendação, pois as 200 páginas deste livro não guarda nenhuma relação com os fatos e as denúncias recentes e constantes difundidas por Yoani Sánchez em seu blog Generación Y (Geração Y), até porque o livro foi escrito em 1976, aproxidamente 17 anos após a revolução que depôs a ditadura de Batista pelo grupo guerrilheiro liderado por Fidel Castro.

    É inegável que esta leitura é recomendada a todos que queiram conhecer a fundo a história da condução de Cuba para o socialismo, único país atualmente sob este regime na América, suas transformações sócio-políticas, sua ascensão e desenvolvimento econômico.

    Boa leitura!

  7. Redação Pragmatismo

    Educação cubana: dados que impressionam
    Com escassos recursos e fortes problemas econômicos oriundos de um constante bloqueio, dados da educação cubana impressionam o mundo

    Em 2009 a Unesco apresentou um informe de seu organismo regional, a Orealc, sobre a prova LLCE (Laboratório Latino-Americano de Avaliação da Qualidade do Ensino) denominado “Segundo Estudo Regional Comparativo e Explicativo na América Latina e no Caribe”, que revelou dados muito surpreendentes para alguns analistas.

    Christopher Marquis do New York Times assinalou: “os estudantes cubanos, em todas as matérias examinadas, obtiveram qualificações muito superiores à media, de maneira consistente, em todas as escolas”.

    O estudo concluiu que “os alunos cubanos quase duplicam os resultados dos alunos que mais se aproximam deles”. O jornalista nova-iorquino apontou que os resultados “foram tão dramaticamente superiores que os pesquisadores da Unesco regressaram a Cuba e examinaram de novo os estudantes, obtendo os mesmos resultados de novo”. Jeff Puryear co-diretor da Associação para a Revitalização Educativa das Américas também se surpreendeu: “mesmo os resultados mais baixos dos cubanos alcançaram um índice superior à média da região, e aplicando nossos próprios padrões!”

    Seguramente isso se deve a um milagre, pois Cuba é evidentemente um país com escassos recursos e fortes problemas econômicos, devido ao constante bloqueio e dificuldades diversas. Ninguém poderia comparar com a capacidade econômica do México, do Brasil, da Argentina e inclusive do Chile e, no entanto, é inegável que a educação em Cuba supera notavelmente mesmo a das potências da região. Cuba teve 70% dos seus estudantes com qualificações de mais 350 pontos de um total de 500, enquanto a média na Argentina, no Uruguai e No Chile foi de 300 pontos. Brasil e México acusaram uma média instável de aproximadamente 250 pontos. Só um milagre da deusa Iemanjá poderia explicar esses resultados.

    O milagre teve início em 1959 quando a revolução triunfante dedicou-se a realizar todo tipo de projetos, cada um mais criativo e significativo. O mais conhecido, o da alfabetização, conseguiu em um ano declarar Cuba como o primeiro território livre de analfabetismo na América Latina. Menos conhecidos são os programas para mulheres camponesas, trabalhadoras, prostitutas; para crianças camponesas, órfãs ou “marginais”; para formar contingentes de professores, e poderíamos acrescentar um longo etcetera… Desde aqueles anos, o primeiro mandato foi levar todos os recursos disponíveis para as regiões devastadas pela pobreza no campo e na cidade. Este simples princípio marca uma enorme diferença com nosso próprio sistema no qual se impôs implacavelmente a máxima neoliberal de dar mais ao melhor “rankeado”, de investir somente naquilo que dá lucro, e assim persistem escolinhas abandonadas em que convivem crianças de várias séries (são 43% das 280.000 existentes), sem materiais, sem recursos, com “professores” que são rapazes treinados pelo CONAFE durante dois meses e enviados com um salário miserável.

    A desigualdade educativa se reproduz assim de maneira estrutural, não é preciso um censo para saber o que já sabemos faz tempo. Sem mencionar o estado desastroso da maioria das escolas, sustentadas pelos pais de família com suas “contribuições voluntárias” e os raquíticos salários dos professores mesmo com o estímulo da carreira de magistério.

    O milagre é que Cuba investe em educação 12.9% do PIB, no bojo de um investimento social de 30%. O México, a duras penas, destina 5% para a educação com altos e baixos pronunciados. Islândia e os países nórdicos se aproximam de 8%. Em janeiro de 1959, Cuba tinha 3 universidades públicas com 15.000 alunos e mil professores, e hoje conta com 67 instituições de altos estudos com 261.000 matriculados e 77 mil professores; 35.000 bolsistas latino-americanos passaram por suas classes, além de um novo programa de municipalização da educação superior que já construiu mais de 300 sedes universitárias municipais. Na verdade, Cuba é toda uma grande escola.

    O estado é o responsável integral da educação, como na Finlândia e na França. Há uma grande valorização social da profissão docente em todos os seus níveis e os salários dos professores equivalem aos de outros profissionais como médicos e físicos. As Universidades Pedagógicas têm um alto grau de formação e de exigência. Nunca há mais de 18 crianças por sala e o tempo dedicado a cada criança pra elaborar e problematizar respostas individuais duplica o da região.

    Estes são alguns dos fatores recolhidos por Martin Carnoy, professor da Universidade Stanford, em seu excelente livro La ventaja académica de Cuba, ¿Por qué los estudiantes cubanos rinden más?. Não necessitamos acudir a modelos tão distantes como Finlândia ou qualquer outro país altamente desenvolvido; a explicação está aqui mesmo, muito perto, e não se trata de um milagre educativo, mas sim de una política congruente com a dignidade de todo ser humano.

    Tatiana Col, Diálogos do Sul

    1. Parabéns por ter vencido as barreiras de censura de tudo o Cuba tem de bom. Lá Patriotismo se escreve com maiúsculas e nenhum ministro pensa em ganhar mensalão se não…. Também no esporte Cuba foi por m,uito tempo campeã mundial em Volley e Basket. Nas pesquisas, científicas Cujba forneceu vacinas especiais para muitos paíse inclusive o Brasil.O problema todo é que Cuba não lê a cartilha do tio Sam (wel) e isso mata muita gente de ódio. Tirem o cruel torniauee do pescoço de Cuba e todos verão um país digno ensinando ao mundo como se faz tudo certo…

  8. As placas do zoo de Cuba foram trocadas de: “não dê comida aos animais”, por: “não retire a comida dos animais”.

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